PE-61 Importância da curricularização de ações extensionistas na formação farmacêutica: os benefícios de uma atividade de extensão no ensino aprendizagem de farmacognosia
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Palavras-chave

curricularização
plantas medicinais
farmacognosia

Como Citar

Loss Araujo, A., Dias de Castro Luz, A. A., & Pessoa Hermely, J. (2025). PE-61 Importância da curricularização de ações extensionistas na formação farmacêutica: os benefícios de uma atividade de extensão no ensino aprendizagem de farmacognosia. JORNAL DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA E FARMACOECONOMIA, 10(s1). https://doi.org/10.22563/2525-7323.2025.v10.e00236

Resumo

Introdução: O curso de Farmácia do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (CEUNES) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), localizada em São Mateus - ES, vinculado ao Departamento de Ciências da Saúde (DCS), oferta a disciplina de Farmacognosia em seu 4o período com carga horária de 90 horas (5 créditos), distribuídas em 60 horas teóricas e 30 horas práticas. A disciplina alinha-se às Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de Farmácia (2017) que destaca a necessidade de integração entre teoria, prática e extensão, além da curricularização de atividades complementares e extensionistas no ensino superior (Art. 10o, Resolução CNE/CES 6/2017). Neste contexto, no segundo semestre de 2024 foi proposta em formato voluntário, uma atividade extra na disciplina de farmacognosia vinculada ao Projeto de Extensão “Quintal Terapêutico” (fruto da parceria entre o DCS a Fazenda Experimental do CEUNES), na qual os alunos assumiram o desafio de cultivar plantas medicinais de ciclo curto (privilegiando plantas medicinais da Relação de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS - RENISUS) em uma Unidade Demonstrativa de Plantas Medicinais (UDPM). A atividade, não obrigatória, visava complementar as perspectivas de ensino e aprendizado e abordava a obtenção de drogas vegetais. Este relato, elaborado a partir da perspectiva do aluno e bolsista do projeto (matriculado na disciplina), parte do pressuposto de que a atividade permitiu uma vivência prática a partir do cultivo dessas espécies medicinais com impacto positivo no ensino e aprendizado. Também se apoia no princípio de que projetos práticos, mesmo quando trazem desafios, são essenciais ao desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes essenciais à formação farmacêutica. Objetivos: Demonstrar os benefícios pedagógicos da integração teórico-prática proporcionada pela atividade extra desenvolvida na disciplina de Farmacognosia do curso de Farmácia da UFES/CEUNES, com ênfase em: Ampliar a compreensão dos discentes sobre os parâmetros que interferem na qualidade de drogas vegetais (ex.: condições de cultivo, época de coleta, técnicas de secagem), complementando as aulas teóricas e práticas da disciplina; Promover a autonomia discente em um contexto prático real, por meio do cultivo de plantas medicinais. Metodologia: Cultivo das espécies medicinais A atividade foi desenvolvida no período de 05/12/2024 a 20/03/2025, na Fazenda Experimental do CEUNES/UFES, em São Mateus-ES. Participaram 23 alunos voluntários cursando a disciplina Farmacognosia que receberam sementes de espécies medicinais priorizadas pelo RENISUS (Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS), como por exemplo Calendula officinalis, Ocimum basilicum, Plantago major, Bidens pilosa, etc. A implementação da atividade apresentou as seguintes etapas: I - Seleção da área de plantio e preparo do solo; II - Obtenção de mudas em casa de vegetação para transferência posterior em área definitiva; III - Acompanhamento e manejo; IV - Elaboração da exsicata e obtenção da droga vegetal. Diário de bordo O diário de bordo foi utilizado pelos discentes para o registro das diversas etapas da atividade. Os registros foram a partir de fotografias ou vídeos, na qual os discentes descreveram seus progressos com o cultivo das espécies medicinais, observando a evolução do cultivo e os desafios encontrados durante a execução desta tarefa. Seminário Ao término da disciplina, os discentes apresentaram seus resultados a partir da comunicação em formato de seminários, onde destacaram os detalhes sobre identificação das plantas (da plântula até o indivíduo adulto), progressos no cuidado e análise de fatores que comprometem e/ou favoreceram a obtenção de indivíduos das espécies medicinais cultivadas viáveis para obtenção de droga vegetal com qualidade, bem como os desafios vivenciados durante a experiência propiciada pela atividade extra. Resultados: Para a atividade extra se voluntariaram 23 alunos, que se dispuseram a cultivar as espécies medicinais ofertadas, acompanhando todas as etapas do desenvolvimento das espécies medicinais, desde a seleção de sementes até a obtenção da droga vegetal. O número de alunos participantes evidenciou o interesse dos discentes pela prática extensionista e a integração dos conteúdos teóricos com a prática. Durante o período em que as mudas foram cultivadas na casa de vegetação, cada aluno pôde observar o desenvolvimento gradual da espécie medicinal sobre seu cuidado. O uso de húmus de minhoca como substrato favoreceu o desenvolvimento saudável da planta, e o monitoramento diário com ênfase na irrigação e incidência de luz, foi acompanhada com o registro fotográfico que permitiu a identificação de situações críticas no crescimento e desenvolvimento das espécies medicinais cultivadas. Ao serem transplantadas para os canteiros externos da UDPM, os alunos compreenderam a importância do manejo adequado para o sucesso do cultivo. Os alunos relataram desafios relacionados a variações nas condições ambientais, incidência de pragas e necessidade de ajustes na irrigação. Essa fase evidenciou que o acompanhamento constante e a rápida comunicação de possíveis problemas eram fundamentais para garantir a qualidade do material vegetal destinado à obtenção da droga vegetal. Após o pleno desenvolvimento das espécies, a coleta das partes vegetais seguiu protocolos farmacopeicos, garantindo a preservação das propriedades medicinais. A secagem, realizada em estufa a 37°C, e a preparação das exsicatas possibilitaram a padronização e a documentação das espécies medicinais cultivadas, servindo como material de referência para análises posteriores. Discussões: A atividade extra demonstrou forte potencial para estimular o ensino e aprendizagem de Farmacognosia ao proporcionar aos alunos a oportunidade de aplicar, de forma autônoma, os conhecimentos teóricos em um ambiente real. Conceitos da botânica, fisiologia vegetal e fitoquímica puderam ser integrados e consolidados durante a ativida de na medida que os discentes vivenciaram o impacto dos fatores edáficos e climáticos sobre o crescimento e desenvolvimento das espécies de plantas medicinais cultivadas. O registro fotográfico e o monitoramento diário realizado pelos discentes, revelaram-se instrumentos essenciais para a análise dos estágios do desenvolvimento vegetal. Essa prática permitiu que os alunos identificassem pontos críticos, como a transição da fase de enraizamento para o transplante, e pudessem compreender como as falhas no manejo comprometem a qualidade final da droga vegetal. Nesse contexto, os discentes enfrentaram vários desafios: espécies que apresentaram dormência quando cultivadas fora do período de cultivo; capacidade de reconhecimento da plântula da espécie medicinal cultivada; ataque de pragas; variações climáticas (sol forte e redução da umidade); necessidade de auto organização para acompanhar o crescimento e desenvolvimento da espécie medicinal cultivada e necessidade de mediação e desenvolvimento de cooperação com outros alunos para auxiliar no manejo do cultivo das plantas. Alguns alunos vivenciaram revezes durante o cultivo e manejo das espécies medicinais; porém, essa experiência de fracasso e frustração não foi capaz impedir que os alunos seguissem com a atividade até o fim e partilhassem suas experiências de modo crítico e reflexivo. A necessidade de identificar e solucionar problemas em tempo real incentivou os alunos na busca de estratégias buscando controlar as adversidades encontradas durante o desenvolvimento da tarefa, atendendo portanto às perspectivas preconizadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais e pelos objetivos pedagógicos da disciplina de farmacognosia. A comunicação dos resultados no formato de seminário permitiu a discussão dos desafios e aprendizados encontrados pelos discentes no cumprimento da atividade proposta, possibilitando reflexões individuais e conjuntas entre os participantes, que apesar das dificuldades encontradas relataram a experiência como positiva. Essa vivência prática não só acrescentou a formação acadêmica, mas também ampliou a compreensão sobre a importância da integração entre a universidade e a sociedade, atendendo às necessidades atuais de uma educação que valorize o pensamento crítico e conecte diferentes áreas do saber. Por fim, os resultados obtidos reforçam a relevância de atividades de ensino vinculadas às ações extensionistas que promovam a integração entre teoria, prática e sociedade. Conclusão: A experiência demonstrou que, apesar dos desafios inerentes à experiência real de cultivo das espécies medicinais, os aprendizados adquiridos contribuíram significativamente para a formação de profissionais mais preparados e críticos. Assim, este relato destaca a importância da ampliação e integração entre o ensino e ações extensionistas para o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes na formação em farmácia.

https://doi.org/10.22563/2525-7323.2025.v10.e00236
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