Resumo
Introdução: O diabetes mellitus (DM) é uma patologia de prevalência crescente mundialmente, com altos impactos sociais
e econômicos. O automonitoramento de glicose é fundamental para o controle do DM e prevenção de complicações e este,
usualmente, é realizado através de glicosímetros. No entanto, o desenvolvimento tecnológico de monitores contínuos menos
invasivos levanta questões sobre custo-efetividade e impacto orçamentário nos sistemas de saúde. Objetivo: Sintetizar evidênciasde avaliações econômicas em saúde (AES) e avaliações de impacto orçamentário (AIO) que comparam monitores de glicose contínuo (MCG) e/ou flash (MFG) aos glicosímetros (AMG), utilizados no autocuidado de pacientes diabéticos, relacionando ao cenário brasileiro. Material e Método: Realizamos uma revisão sistemática de estudos primários com resultados de AES completas, comparando dispositivos de monitoramento da glicose no DM, sem restrições quanto a idade, sexo, condições de base ou comorbidades dos pacientes ou idioma. Os desfechos considerados foram custo-efetividade, custo-utilidade e impacto orçamentário, seguindo as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses, 2020 (PRISMA). A seleção e avaliação dos estudos foi conduzida por dois pesquisadores independentes e, para avaliar a qualidade, foi utilizado o instrumento Consolidated Health Economic Evaluation Reporting Standards, 2022 (CHEERS). Divergências foram resolvidas por um terceiro pesquisador. Os dados extraídos foram organizados em uma planilha com informações sobre: tipo de DM, métodos, perspectivas econômicas, comparadores, intervenções, horizonte temporal, e resultados financeiros, incluindo relação custo-efetividade incremental, relação custo-utilidade incremental e impacto orçamentário. Resultados: Foram incluídos 18 AES e 5 AIO. Entre os estudos de AES, 14 (77,78%) focaram na análise de custo-utilidade, enquanto 3 (16,66%) exploraram a custo-efetividade, 1 estudo abordou ambas as análises. A maioria dos estudos (94,44%) foi realizada em países desenvolvidos, avaliando a implementação de MCG ou MFG. Doze estudos (66,67%) concentraram-se em pacientes com DM1, com 10 estudos (55,56%) utilizaram o MCG como intervenção principal. O AMG foi utilizado como controle em 17 estudos (94,44%). Em 17 estudos, concluíram que MCG e/ou MFG seriam mais custo-efetivos que o AMG. Nos estudos de AIO, 80% foram financiados pela indústria e todos relataram a existência de conflitos de interesse; 60% dos estudos de AIO foram realizados com pacientes com DM1 e todos indicaram que a introdução de MCG e MFG teria um impacto orçamentário positivo em comparação com o AMG. Conclusões: A extrapolação dos resultados, considerando o câmbio de agosto de 2024, sugere que nestes cenários, MCG e MFG não seriam custo-efetivos para o Sistema Único de Saúde no Brasil, dado o limiar de R$40.000,00. Apesar da diversidade metodológica, de resultados e dos potenciais vieses, esta revisão sistemática identifica ferramentas valiosas para a realização de AES e AIO no contexto brasileiro.

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Copyright (c) 2025 Andreia Ramos Lira, Daniela Oliveira de Melo

